03 abril 2017

Uma despedida


Há 10 anos, eu via minha mãe partir. E com a partida dela, me vi sem chão, sem lar. A minha casa ainda existia, mas o buraco que ela deixou acabou por abalar meu conceito de lar. Somado a isso, eu passava de 4 a 7 horas por dia no trânsito caótico de SP.
Então, decidi comprar um apartamento. O apartamento precisava ser calmo como eu me lembrava daquele lar que havia perdido, e também com um pouco do carinho que minha mãe tinha pela casa. E assim eu comecei um projeto de decoração todo casa de vó, inconscientemente, procurando aquele lar.
Alguns amigos me disseram:
- Comprou apartamento?
- Sim.
- Quem cria raiz é planta.
E eu me lembro de ficar chateada, e pensar: Qual o problema de se criar uma raiz? As plantas são tão legais e felizes.
Outras pessoas diziam:
- Ah, mas é em Diadema... (tipo longe pra caramba) . Nunca deixei que falassem mal do meu canto. Porque, apesar de todos os problemas, era o lugar onde eu me sentia segura, e ponto.
E aí chegou o Rafa.
Junto com o Rafa, as manias do Rafa, nossos primeiros encontros... Nosso casamento, nossa decoração com a cara do Rafa, nossas viagens e tudo aquilo que construímos juntos. E aí percebemos que era hora de mudar. Mudar de vida, mudar de casa.
Alçar novos voos. Agora, é mudar de bairro, e quem sabe, um dia, mudar de país.
Parece fácil, mas não é. Mudar de canto representa deixar ali muitas lembranças e muitos motivos, os motivos que me levaram até ali. Representa me separar daquilo que foi pra mim uma base, a construção de um novo lar, para ir para outro lugar. Representa me separar das minhas referências, de uma parte de mim.
Essa semana, encontrei minha avó e ela disse: "Você está cada dia mais a cara da sua mãe". Ainda que inconscientemente, fui incorporando as manias e os hábitos dela. Isso me deixa mais tranquila, porque de certo modo me mostra que eu ainda estou aqui. Que ainda há um lar, que ainda existem as lembranças dela em alguma parte.
Vou mudar de casa. Porque na casa nova eu vou poder colocar plantas na sala. E talvez ter um cachorro.
E criar novas memórias :)